Monday, August 31, 2009

Na váibe do Robertão

De repente, não mais que de repente, você se dá conta que, ao ver alguém, não sente alegria, tristeza, ódio, náusea, vontade de cobrir de beijos nem de porradas, nada. Uma coisa vazia e ponto. É esquisito se pensar que até algumas semanas atrás você até casaria com aquela pessoa.

O que dá pra tirar de tudo isso? Muitas coisas. Sobretudo, a sensação de vitória por ter dado alguns passos importantíssimos, entre eles “a confissão”. Eu “que tantas vezes reles, tantas vezes vil”* consegui dizer com todas as letras o que sentia, o que esperava, ao invés de ficar calada num canto esperando uma vaca voar e gritar para o mundo que a felicidade existe. Falei olhando no olho, sussurrei ao pé do ouvido, copiei palavras escritas por outrem, escrevi minhas próprias palavras, rascunhei, pintei, recortei e colei, literalmente. Cheguei atrasada por decidir ir vê-lo, acordei no meio da madrugada por causa dele e saí como uma desvairada porque ele chamou. Tomei vodkas, comi temakis e engoli sapos, tudo por causa... dele? Talvez. Valeu a pena ter me entregado a ele? Valeu sim, desde que o “ele” seja interpretado como um sentimento e não como alguém, propriamente dito.

Vivi um amor adolescente com um retardo grande de tempo. Mas eu vivi, dei-me o direito de V I V E R. Senti as pernas bambas, o calor, a ansiedade, a vontade... Ah a vontade... Tudo que é comum a quem está apaixonado. Doeu? Em diversas oportunidades, não só doeu, como chegou a sangrar. Mas quem nunca ralou o joelho na infância. Joelho está para criança assim como coração está para apaixonado. É exatamente aquilo que colocamos na frente pra amparar as quedas. Ao invés de protegê-lo, usamo-no como almofada! É idiota? É, mas se fosse algo racional não seria coisa de gente apaixonada. Fato.

Cada coisa feita valeu a pena. Arrependimento? Nenhum. Porque a oportunidade foi dada a mim e a ele. Não rolou dele aproveitá-la, tudo bem. Eu tentei e ninguém pode me castigar por isso. Nem eu mesma! Os chineses não dizem que existem três coisas sem volta? A flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida. Pois bem, desta vez me agarrei à oportunidade e tentei. Não tive sucesso? Talvez. Não, não estou namorando, noiva, a quatro dias do maior casamento da história. Pelo contrário, estou sozinha, não sei se totalmente feliz, mas estou. Não importa o objeto direto. Apenas estou e isto basta. Olho pra trás e vejo um bilhete colocado num bolso, uma dancinha de rosto colado, uma série de beijos deliciosos, uma crise de ciúme aqui e outra ali. Também vejo umas discussões, uns machucados, umas ofensas que ajudaram a me construir o que sou hoje. Coisas com que aprendi. Aprendi a não agir mal ou a usar a defesa de melhor maneira.

Saldo disso tudo? Positivíssimo.

Pode ser que não necessitasse ter sido uma fase tão longa, que durou mais de um ano. Quase certeza! Mas, ok... Se durou, ok. O leite já foi derramado e não há o que chorar. Agora é esperar que a fase tenha realmente se encerrado. Senão, talvez doa um pouco mais aqui ou ali. O fato é que vazia não dá pra ficar. Não rolou aqui? Rolará ali, ali ou ali. E hei de usar muito do que aprendi agora. Inclusive, prometo tentar não me boicotar tanto da próxima vez. O primeiro alvo era hétero e casado. O outro, gay e solteiro. Quem sabe agora eu acerte direito na escala, nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Já diz Robertão, “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”.

*Já disse que AMO Fernando Pessoa? Principalmente Álvaro de Campos?

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