Monday, December 08, 2008

Mulherzice Exacerbada

Depois de aaaaaanos trabalhando em uma borracharia*, estou trabalhando num salão de beleza**. E isso faz diferença! Muita!
As conversas mudaram e minhas atitudes também. Agora eu passo a maior parte do dia em silêncio, não tenho mais vontade de falar com as pessoas. Os assuntos são muito diferentes e o mote principal é todo e qualquer papo de mulherzinha, daqueles que eu não consigo ter. Ou, se consigo, me fazem chorar.
Ninguém comenta sobre futebol, sobre o impedimento do Borges (que eu também não apitaria porque o zagueiro encobriu o bandeira totalmente!), sobre escapadas para idas ao Bar do Léo. Aliás, sequer perceberam que eu não estava aqui na sexta!
O papo que surgiu agora foi quando a coleguinha vai ter bebê. Ela acabou de completar um ano de casada, está preocupada que vai completar 30 anos em janeiro e que está velha pra ter uma criança (?!). Ainda complementaram a idéia com a história da amiga que entrou em depressão porque não conseguia ir ao salão fazer a unha depois que deu à luz. Juro que estou ficando sufocada!
Creme pra isso, creme pr'aquilo, hidratante de maracujá, de beterraba ou de açafrão. Sessões sobre beleza que parecem reunião nutricionais. Por falar nisso, dieta de tal jeito, malhação não-sei-onde, a capa da Caras, a novela, a escolinha do filho.
Definitivamente, não gostei de brincar de ficar aqui. Não aguento mais estes papinhos maricas. Falem como homens!
Não estou falando que mulherzices são chatas. Mulherzices são legais se consumidas com moderação, assim como as machices. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, já diria minha mãe. Assuntos neutros são bem vindos como o tempo, o trânsito e assuntos pertinentes ao nosso trabalho. Falemos sobre a Bolsa de Valores e não sobre bolsas com strass. Só por hoje!
Aqui não se comenta seres "bem apessoados". Na borracharia, este era o eufemismo para falar sobre as delícias que se apresentam na forma humana. Moças bem apessoadas e rapazes bem apessoados eram pauta. O fato de 80% da borracharia ser comprometida não implicava na falta deste assunto. Eles são casados e não defuntos. Eles olham, apreciam. Aqui, não.
"Porque meu marido blablablá". Na borracharia, os cônjuges têm nomes. Sueli, Eliane, Ana Paula e Juliana são Sueli, Eliane, Ana Paula e Juliana. Não são "minha esposa" ou "minha mulher". Na época em que eu fazia parte do time dos comprometidos, eu falava sobre "Daniel" e não sobre "meu namorado".
Ninguém aqui possui necessidade especial, ou seja, todas têm dois braços, duas pernas, dois olhos, um nariz, uma boca bem funcionais além de estatura acima de 1,50m. Logo, podem mover coisas, erguer coisas. Mas não fazem. "Silvio, carrega a cadeira pra mim?" Lá vai o tonto do Silvio e carrega. Porque a dondoquinha não podia pegar a cadeirinha dela e passar por cima da baia. No dia em que eu peguei a minha cadeira e carreguei até minha mesa, todos olharam assustados. Perguntei por que motivo e eles disseram "nossa! você levou sozinha!". Retruquei "na hora de cair na gandaia, eu também caio sozinha... então, por que não fazer esforço sozinha?". Continuaram assustados, como se eu fosse um ET.
Tá, eu sei que sou mais macho que deveria, mas... É pedir demais que elas sejam menos frescas?

*Borracharia = equipe dos sistemas com os quais eu trabalhava, formada essencialmente por homens e somente eu no papel de irmã mais nova de todos eles.
** Salão de Beleza = parte da gerência na qual eu estou agora, em que o quadrante ao lado do meu é formado só por mulheres que falam como mulheres sobre coisas de mulheres.

1 Comments:

Blogger casinha said...

eu sou fã da antiga borracharia, é fato. é fato também, que por mais mulherzinha que eu seja tantas vezes, acho papos com a macharia muito mais divertido. enfim, te desejo um tanto de paciência. e é gostoso demais te ler de novo.

beijo!

6:31 PM, December 08, 2008  

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